sábado, 15 de agosto de 2009

Construindo o Conhecimento Histórico

Átila: O Huno



Átila: construção do mito


Neste estudo fiz uso de um documento intitulado: “Perfil de Átila”, presente no livro: “O modo de produção feudal” que tem como autor Jaime Pinsky. Tal texto refere-se às características físicas de Átila e o principal atributo de seu poder: o gládio de Marte.

Pretendo através da analise deste pequeno documento mostrar um pouco das mentalidades, tipo de História inaugurada pela escola dos Annales, abordando um elemento que se encontra fortemente presente na mentalidade dos homens medievais, o caráter simbólico.

Antes de adentrar a minha reflexão devo ressaltar dois elementos: quem foi Átila e o que se entende por símbolo referente à Idade Média. Átila foi o rei dos Hunos de 433 a 453, e ficou conhecido pelas suas conquistas, que segundo seus contemporâneos eram de extrema violência, submeteu diversos povos bárbaros, como: Ostrogodos, Alanos e Gépidas, seu império foi dotado de riquezas. Vale ressalvar que essa visão que se tem de Átila pode ser uma construção historiográfica, graças à historicidade que o sujeito pode carregar. Quanto ao que se entende por símbolo farei uso das palavras de Jacques Le Goff, um dos maiores expoentes da história das mentalidades: “[...] É a referência a uma unidade perdida, recorda e evoca uma realidade superior e oculta. Ora, no pensamento medieval, cada objeto material era considerado como figuração de qualquer coisa que lhe correspondia num plano mais elevado e transformava-se assim no seu símbolo.[...]” (Jacques Le Goff, 1984, 13). Dessa forma um simples objeto possui um grande expoente de significado. Exemplo disso é o ouro, que em nossa sociedade possui um grande valor comercial, mas, na Idade Média representava muito mais as coisas celestiais do que um valor de troca, o que também atribuía certo valor místico ao ourives por este ter contato direto com o ouro.

Esse fator simbólico pode ser facilmente percebido quando o narrador menciona o relato do historiador Priscos, ao relatar que através do gládio de Marte o rei Huno torna-se o príncipe do mundo, pois quem possui tal arma obtêm o poder militar tendo condições de dominar o mundo, assim uma simples arma torna-se uma espécie de amuleto, ganhando um caráter mágico. Tal caráter é uma característica marcante no Medievo, são muitos os objetos que ganharam essa conotação, Le Goff chega até a falar na venda desses objetos místicos em seu livro “A civilização do Ocidente Medieval”. Dessa maneira, o que é material e o que é abstrato fica tão intimamente ligado que o historiador ao estudar os documentos que são marcados por esse simbolismo deve, através da critica e análise, destrinchar o que não passa de pura abstração daquilo que é realmente concreto, nunca se apaixonando pela fonte, buscando entender que por trás de toda abstração existe um fundo de concreto.

Se analisarmos o personagem Átila presente nesse documento tomando cuidado com a historicidade que a Idade Média possui e com esse fator tão marcante, que são as mentalidades, perceberemos que é bem mais fácil atribuir as grandes conquistas desse homem a um poder sobrenatural, o qual se encontra em um objeto místico, do que apontá-las a um simples mortal. Assim vemos que é importante que o historiador deva sempre observar a historicidade que cada tempo possui e não criticá-lo a partir do presente, sempre procurando reconstruí-la para poder fazer uma análise mais apurada.

Vale salientar que esta não é a única abordagem que se pode fazer desse documento, assim como outros documentos ele está passível de diversas interpretações, as quais dependem do objetivo e do ponto de vista do leitor. Por exemplo, esse documento também podia ser utilizado para desconstruir o personagem de Átila, tendo em vista que esse é uma construção discursiva: entender por que se temia tanto esse bárbaro, assim como as crenças medievais. Claro que haveria uma necessidade de recorrer a outros documentos.

Concluo por dizer que é importante que o historiador observe o documento sempre com um olhar crítico para que se possa fazer um bom uso daquele, sempre notando a presença das mentalidades que marcam fortemente os documentos.



Jandson Zé


Referências:

LE GOFF, Jacques. Mentalidades, sensibilidades, atitudes (século X-XIII). In:_____. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1984. P. 93-100.

PINSKY, Jaime. A transição do escravismo para o feudalismo: as invasões. In:______. O modo de produção feudal. São Paulo: Brasiliense, 1979. P. 21-60.



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